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CFP divulga Manifesto em que repudia tentativa de suspender a Resolução CFP 001/1999


Publicado em: 27 de junho de 2012
Créditos: CRP SP
Fotos: CRP SP

CFP divulga Manifesto em que repudia tentativa de suspender Resolução CFP 001/1999 No último dia 28, Brasília, foi cenário de uma Audiência Pública, na Câmara dos Deputados sobre o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011, proposto pelo deputado João Campos (PSDB -GO), que pretende suspender trechos da Resolução CFP 01/1999, que estabelece normas de atuação para as(o) psicólogas(o) em relação à orientação sexual. A composição da mesa de debate da audiência claramente privilegiou os que defendem o projeto, já que movimentos sociais, Conselhos de Direito e defensores de políticas públicas de diversidade sexual, sequer foram convidados (as) para integrar a mesa. Sendo assim, o debate democrático de idéias e a pluralidades das discussões não ocorreu. Por isso, o CFP optou em não participar da audiência. Quando integrantes de movimentos sociais que a assistiam manifestaram suas opiniões, foram retirados com truculência pelos seguranças. O CRP SP, representado pelo Conselheiro Luis Fernando de Oliveira Saraiva, e pelas Conselheiras Ana Ferri de Barros e Janaína Leslão Garcia, acompanhou a audiência. Leia abaixo íntegra do Manifesto do CFP que repudia tentativa de suspender Resolução CFP 001/1999 O CFP vem publicamente manifestar seu repúdio à forma antidemocrática com que vem sendo construído o debate sobre o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011, que visa sustar a aplicação de trechos da Resolução CFP 01/1999, que estabelece normas de atuação para as(o) psicólogas(o) em relação à orientação sexual. O projeto, de autoria do deputado João Campos (PSDB/GO), é pauta de Audiência Pública marcada para o dia 28 de junho, por requerimento dos Deputados Roberto de Lucena (PV-SP) e Pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Quatro, dos(a) cinco(a) profissionais convidados(a) para a mesa indicam posicionamento favorável à suspensão dos artigos da Resolução e não representam instituições ou lugares de produção de conhecimento que possam garantir a necessária pluralidade ao debate. Além disso, outros atores importantes não foram sequer convidados ao debate, como o Ministério Público e o CNCD/LGBT (Conselho Nacional de Combate a Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Conselho esse que tem a missão de propor e debater a política de direitos humanos na sua interface com a diversidade sexual. Em especial, não foram convidados também segmentos do movimento social ou representações da sociedade civil organizada, que expressam a defesa dos direitos das pessoas LGBT. Vale salientar que a militância LGBT congrega inúmeras entidades que vêm garantindo o avanço da promoção dos direitos humanos nas políticas públicas. A exemplo disso, citamos a recente decisão judicial da Corte Suprema do país, o STF, de reconhecer a união estável homoafetiva, como emblema da sensibilidade da sociedade brasileira e do poder judiciário. Nesse sentido, é lamentável que audiências públicas, dispositivos de grande potência democrática, presentes na formação de opiniões, sejam desperdiçadas ao invés de ouvir diferentes atores, como preconiza o próprio Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Cabe destacar que a Resolução do CFP 001/99 é um marco internacional na defesa dos direitos humanos. Ainda no ano de 1970, a American Psychological Association retirou do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) a homossexualidade do rol de transtornos psicológicos. Seguindo este posicionamento, dentre as organizações internacionais, em 1993, a Organização Mundial de Saúde excluiu a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados com a Saúde (CID 10). No Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Medicina reafirma essa decisão. Inclusive, o psiquiatra Robert Spitzer, considerado o pai da Psiquiatria Moderna e conhecido pelo apoio ao uso da chamada terapia reparativa para cura da homossexualidade, após 11 anos, veio a público pedir desculpas às pessoas LGBT. A norma foi construída no âmbito da regulamentação da Psicologia e rapidamente tornou-se referência dos poderes legislativo, judiciário e executivo, sendo citada como dispositivo orientador exemplar de garantia de direitos, servindo de referência para outras profissões, para instituições de ensino superior e de pesquisa. É preocupante que um Projeto de Decreto Legislativo esteja sendo utilizado para atender interesses pessoais ao invés de estar a serviço do bem comum. Ademais, é preciso lembrar que eventual ato de sustação pode ser objeto de questionamento judiciário, inclusive com o argumento de sua inconstitucionalidade, já que o PDC flagrantemente exorbita a função do Congresso. O CFP reafirma a importância da construção democrática e se coloca à disposição para os debates críticos, reflexivos, construtivos e respeitosos, que refletem a real intenção de incluir todas as vozes, como sempre fez, e se nega a colaborar com falsos debates de cunho unilateral como o dessa audiência. PELA PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA NAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS! QUE ASSEGUREM TODAS AS VOZES! PELO DEBATE RESPEITOSO QUE GARANTA OS DIREITOS HUMANOS DA SOCIEDADE BRASILEIRA! CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Brasília, 27 de junho de 2012.