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Ao não silenciamento de vidas e mortes de crianças adolescentes e jovens adultos em situação de rua no centro da cidade de São Paulo


Publicado em: 12 de março de 2015
Créditos: CRP SP
Fotos: CRP SP

Ao não silenciamento de vidas e mortes de crianças adolescentes e jovens adultos em situação de rua no centro da cidade de São Paulo Quem cala sobre teu corpo; Consente na tua morte; Talhada a ferro e fogo; Nas profundezas do corte; Que a bala riscou no peito; Quem cala morre contigo; Mais morto que estás agora; Relógio no chão da praça; Batendo, avisando a hora; Que a raiva traçou; No incêndio repetindo; O brilho de teu cabelo; Quem grita vive contigo. Menino – Milton Nascimento No início de janeiro de 2014 fomos notificados que um jovem de 19 anos, atendido pela rede, havia sido agredido brutalmente por outros jovens e adolescentes no centro de São Paulo, falecendo pouco tempo depois. Desde esse episódio, em pouco mais de um ano, vivenciamos pelo menos mais 7 mortes de crianças, adolescentes e jovens adultos em situação de rua. Todas essas envolvendo situações de violência física e/ou uso abusivo de drogas, em especial solventes, como “lança-perfume” e “thinner”.No caso das mortes relacionadas ao solvente a situação de vulnerabilidade em que os jovens se encontravam foi determinante para o desencadeamento da morte, visto que nas situações houveram também cenas de abuso sexual, violência ou os mesmos estavam protagonizando furtos. Ou seja, não se tratou de casos isolados de abuso de substâncias psicoativas e sim de uma junção de fatores que a rua impõe como grande risco para esses adolescentes. Essas mortes nos fazem refletir ainda mais sobre a invisibilidade dessas crianças que vivem e morrem nas ruas de São Paulo. Mesma invisibilidade que acoberta as chacinas nas periferias do país, a violência policial, os desaparecimentos e as torturas de tantas crianças, adolescentes e jovens cuja vida é considerada indesejável, intolerável, “menor”. Diante disso, os serviços de atendimento à essa população se mobilizaram a fim de não silenciar essas vidas e mortes. A aposta é na consolidação de uma rede que se paute pela solidariedade e cuidado com o outro, que seja capaz de estabelecer laços e ações políticas que possibilitem a transformação de uma realidade como a nossa. Realidade essa que permite que pessoas morram brutalmente todos os dias. Já começamos as ações. A próxima, no dia 13 de março às 15h00min, será um ato que partirá do Vale do Anhangabaú e percorrerá os locais onde essas crianças e adolescentes morreram. A ideia é poder vivenciar o luto com as demais crianças em situação de rua, realizando um cortejo simbólico, denunciando e evidenciando a frequente violação dos Direitos Humanos e o descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Lembrando que esse ano completa-se 25 anos de tal Estatuto. “(...) para vivermos numa ilha de ficção dentro de uma sociedade segregadora e bélica, precisamos viver como sonsos essenciais, como diz Lispector (1971): mantenho o conforto e a sensação de ser do bem. Ficamos na inocência, na indiferença mortal, no alívio indigesto e escondido de nós mesmos, pois, afinal, alguém fez por mim, sujou as mãos por mim ou viveu por mim a raiva enquanto eu tive calma. O medo, a impotência frente a uma realidade tida como imutável e o desejo de que minha casa funcione do mesmo jeito de sempre são os modos de sustentar uma impossibilidade de mudança. Dizendo eles, nós nos salvamos. Mas eles somos nós, e essa constatação encobre o terror da semelhança. Inventamos uma diferença radical entre nós e os personagens do massacre para contornar o medo. Sem querer saber o que se passa, embalados pela culpa e pela compaixão, postergamos o ato ético-político. E, se alguém o faz, é nomeado como radical, fanático, deslocado do seu tempo(...) (Catroli, Debieux e Vicentin. Viver em tempos sombrios: a experiência e os laços com os contemporâneos Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 51-68, abr. 2009) Essa carta é um convite a todos atores sociais que se mobilizam com as causas dos direitos humanos e da defesa das crianças e dos adolescentes, para participarem desse processo. Participantes: - Projeto Quixote - Seas Santa Cecília - Caps i Sé - Matilha Cultural - Casa Rodante - Coletivo Sem Ternos - Associação Compassiva - UBS República - É de lei - CEDECA Sé - Pivale - Piluz - Casadalapa - Exú-Arte - Seas Sé - Creas Sé - Projeto Ocinas - CEDECA Interlagos - Fundação Projeto Travessia - Consultório na Rua - SAE Campos Elísios - Fórum de Direitos da criança e do adolescente Sé - Conselho Regional de Psicologia SP - CRP 06 CLIQUE AQUI E FAÇA O DOWNLOAD DA VERSÃO EM PDF.