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Consciência negra e o dever das(os) psicólogas(os) pela busca por uma sociedade igualitária, livre do racismo e do machismo


Publicado em: 19 de novembro de 2015
Créditos: CRP SP
Fotos: CRP SP

No dia 20 de novembro é celebrada a consciência negra no Brasil, data que foi escolhida para refletirmos sobre as condições em que africanas e africanos foram trazidos a este país e sobre as contribuições que trouxeram para a sociedade brasileira, num processo histórico em que foram transformados em brasileiros negras e negros que seguem sem a devida valorização.   Refletirmos a importância da consciência negra a partir das possibilidades da ciência psicológica se faz estritamente necessário, pois o desenvolvimento da subjetividade das pessoas negras é perpassado pelas questões raciais. Sendo assim, a consciência negra só seria desnecessária se vivêssemos numa sociedade em que não existisse discriminação racial, que em muitos casos se correlata a discriminações de classe e gênero e atinge as mulheres negras de maneira mais perversa e violenta. Estas mulheres são destinadas a viverem numa sociedade submetida a padrões estéticos eurocentrados, que não reconhecem sua beleza, seu intelecto e sua humanidade.   Essa invisibilização da mulher negra em nossa sociedade sexista e racista fez com que a heroína Dandara, a mais representativa liderança feminina na República de Palmares, obtivesse pouco espaço de menções e registros históricos. Foi esposa de Zumbi e teve três filhos, dominava técnicas da capoeira e teria lutado ao lado de homens e mulheres nas muitas batalhas consequentes a ataques a Palmares.   A nós, psicólogas(os), cabe no cotidiano de nosso exercício profissional estar atentas(os) à dimensão subjetiva constitutiva do racismo e ao modo como esse fenômeno está presente no sofrimento humano. Quando falamos de relações raciais, reconhecemos que o racismo opera nas relações humanas por complexos e delicados processos, aos quais devemos atenção, reconhecimento, acolhimento e, também, enfrentamento.   Em nossa profissão majoritariamente composta por mulheres brancas – o que diverge da realidade brasileira composta por 52,9% de pessoas pretas e pardas, conforme o censo 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - se faz necessário recorrermos à psicóloga negra e estudiosa da temática racial, Dra. Cida Bento, quando esta diz que “os profissionais padecem dos pactos narcísicos e estão imersos na fantasia de que ‘somos imparciais’ e racialmente neutros”. Deste modo, torna-se imprescindível pensarmos sobre as relações raciais e de que modo estas reverberam na construção da identidade dos sujeitos.   No ano de 2002, o Conselho Federal de Psicologia, por meio da Resolução CFP nº 18/2002, criada após sugestão das Comissões de Direitos Humanos de Psicologia e debates ocorridos em 15 Conselhos Regionais, estabeleceu as normas de atuação para psicólogas(os) em relação a preconceito e discriminação racial, comprometendo nosso trabalho profissional com o combate do racismo como um dever ético.   Aprovarmos uma Resolução para tratar do preconceito racial e o posicionamento da(o) psicóloga(o) frente às repercussões psíquicas deste tipo de discriminação foi, sem dúvida, um avanço para a Psicologia que, como ciência psicológica, contribuiu para a construção ideológica do racismo através da adoção de técnicas psicométricas sem quaisquer considerações do contexto social, histórico e econômico para a segregação da população negra¹.   Reconhecemos que o racismo está presente nas relações sociais cotidianas e, portanto, na singularidade de cada pessoa que atendemos, nas instituições em que trabalhamos, nas comunidades em que se inserem nossos serviços. Atentas(os) a ele, nossa atuação deve estar comprometida com sua eliminação, que passa necessariamente pela promoção da reflexão que possibilite seu reconhecimento e sua problematização.   De acordo com a Resolução, cabe a todas(os) nós, no exercício da Psicologia contribuir para a reflexão sobre o preconceito e para a eliminação do racismo. Igualmente, é vedado e constitui, portanto, falta ética de profissional das(os) psicólogas(os) exercer qualquer ação que favoreça discriminação ou preconceito de raça ou etnia, ser conivente e se omitir perante o crime do racismo, utilizar instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos ou discriminação racial, colaborar com serviços de natureza discriminatória ou que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias e realizar pronunciamentos públicos de modo a reforçar o preconceito racial.   Que possamos fazer por nossa atuação profissional um cotidiano comprometido com a superação do racismo que historicamente marca nossa sociedade e que os debates e mobilizações dessa data contribuam para que possamos ampliar nossa consciência sobre o modo como se configura a questão da negritude em nosso país.   Considerando que preconceito racial humilha e a humilhação social faz sofrer, esta não deve ser uma luta somente das(os) psicólogas(os) negras(os), mas uma luta de todas(os) as(os) psicólogas(os) brasileiras(os)!