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Campanha Pelo Fim da Violência discute o espaço das mulheres trans e travestis na sociedade


Publicado em: 2 de dezembro de 2019

Quando falamos de mulheres trans e travestis, num debate sobre mulheres, estamos nos propondo a discutir o quê? É importante iniciar o texto com esse questionamento, pois durante muitos anos os movimentos feministas não compreenderam e aceitaram as mulheres trans e travestis dentro de seus espaços. Hoje em dia, entendemos que se um espaço não é acolhedor para as trans e travestis, ele não é um espaço acolhedor para todas as mulheres.

Durante muito tempo da história dos movimentos feministas a presença de mulheres trans e travestis soava como desrespeito, éramos vistas como intrusas, muitas vezes não reconhecidas como mulheres. As contribuições do Transfeminismo e a luta de muitas mulheres trans e travestis têm mudado a história da nossa política no país e apontado para o reconhecimento e ampliação de seus espaços na sociedade.

Consideramos que enfrentar a violência contra as mulheres é falar também da violência que mulheres trans e travestis enfrentam. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. Dados levantados por movimentos sociais como o Grupo Gay da Bahia apontam que a cada 36 horas um LGBT é assassinado, sendo que grande parte dessas mortes são contra pessoas trans. A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, enquanto da população em geral chega a 70 anos.

No ano de 2018, o Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais no Brasil, apontou para o homicídio de 163 pessoas, sendo que 82% eram trans negras. Dados como este nos fazem pensar sobre o lugar vulnerável que pessoas trans e negras ocupam na sociedade, se tornando alvos ainda maiores de violência.

A ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) aponta que 90% das mulheres trans e travestis estão na prostituição como única alternativa de trabalho.

Infelizmente quando falamos de população trans precisamos lembrar desses dados alarmantes de violência, para que possamos enfrentar e pensar sobre essa realidade. Nos dias de hoje sabemos que não há nada de errado com uma pessoa trans, porém até 2018 o CID (Código Internacional de Doenças) apontava que a transexualidade era um transtorno mental. Esse passado nefasto se arrastou até os dias de hoje e impôs uma visão patológica sobre a existência das mulheres trans e travestis. Atualmente compreendemos a transexualidade como uma expressão da vida humana e entendemos que o que precisa ser enfrentado é o mundo hostil e excludente contra pessoas trans. Quem precisa de cura é o ódio, pois não há cura para aquilo que não é doença.

Além de ser o país que mais mata trans, no Brasil há a exclusão sistemática dessas pessoas do mercado de trabalho, da família, dos espaços políticos de decisão.  Outro grande problema é a evasão escolar a que essa população está  submetida no período da adolescência.

Consideramos que a promoção de direitos humanos e de políticas públicas são caminhos importantes para a inserção social e o enfrentamento da violência contra essa população.

Assim entendemos que esses eixos são necessários e importantes para que ocorra a diminuição dos casos de violência física e de feminicídio contra as mulheres trans e travestis. Não podemos esquecê-las no debate e muito menos achar que são uma pauta adjacente desse debate. Se acreditamos que o mundo só se torna melhor quando todas as mulheres podem viver livremente, então que as travestis e mulheres transexuais também tenham esse direito e que um dia possamos conquistar a liberdade que Nina Simone citava: “a liberdade só existe quando não temos medo”.