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Do luto à luta: HIV/AIDS, Sexualidades, Gêneros e Psicologias


Publicado em: 1 de dezembro de 2020

1 de Dezembro, Dia Mundial de Luta contra a AIDS, e 10 Anos do Centro de Documentação do CRP SP (CEDOC)

Desde o início dos anos 80, quando a AIDS se tornou conhecida em todo mundo, a sociedade tem aprendido a conviver com o luto e a melancolia causada pela perda irreparável de milhares de pessoas. 

Quando pouco se sabia sobre esta doença, não havia muito a se fazer, a não ser esperar que um dia o corpo doente, cansado de lutar, sucumbisse em cerca de um ano. Além de muito letal, a AIDS carregava consigo um pânico moral, pois levava a sociedade a pensar sobre a realidade da orientação sexual das pessoas. 

Inúmeros homens, que socialmente performavam a heterossexualidade cisgênera, ao se infectarem, foram catapultados dos armários a partir dos quais escondiam suas sexualidades. Tratava-se, portanto, de uma sensação de pânico/terror que invadia as pessoas, pois ninguém, ainda que quisesse se esconder, estaria livre da exposição. 

Se ainda o uso do preservativo fosse, desde muito antes, um hábito... Mas, não o é.

Fomos percebendo que o machismo não considera um hábito proteger-se de uma doença sexualmente transmissível. Afinal, não poderia um vírus (invisível) infectar um “macho de verdade” —, estivesse ele no corpo de um homem gay, uma mulher cisgênera, uma travesti ou transexual. Afinal, “macho que é macho não adoece”. 

Curiosamente, vemos sinais de repetição desta mesma lógica com o uso ou não da máscara para nos protegermos da Covid-19. Ainda que encontremos mulheres sem usar ou usando a máscara de forma equivocada, não se compara à quantidade de homens que não usam ou sempre usam a máscara de forma ineficaz. Para muitos deles, inclusive, “tudo não passa de uma ‘gripezinha’”.

No caso do HIV, a alternativa para lidar com a fluidez da sexualidade mantendo os privilégios foi criar um “pânico moral”, uma negação que afirmava ser a AIDS o câncer/a peste gay. Até finais dos anos 1990, ainda se acreditava que a AIDS fosse “doença de maricas”. 

O que fez mudar esta crença foi justamente o aumento vertiginoso de infecção em mulheres cisgêneras, sobretudo as casadas. Tal fato, portanto, desvelou o que já era sabido desde os anos pós-guerra: a LGBTQIA+fobia oprime e impele muitos homens a esconderem seus desejos homossexuais no armário do casamento, para se protegerem da hostilidade social e familiar. 

Dentre as reações hostis, temos aquela que advinha da própria ciência, mais notadamente da Psiquiatria e Psicologia. Apenas em 1973 a American Psychiatric Association (APA) retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais e, apenas em 1990, a Organização Mundial de Saúde aboliu a ideia de que a pessoa homossexual fosse doente mental. 

Apenas em junho de 2018, essa mesma OMS retirou a transexualidade da descrição de transtornos mentais e passou a interpretá-la como incongruência de gênero, implicando, portanto, numa nova interpretação sobre gênero e sexualidade. 

Nesta pequena nota, não há espaço para descrevermos a grande contribuição da Psicologia enquanto ciência e profissão. Mas é inegável, que desde o início da pandemia, muitas psicólogas e muitos psicólogos contribuíram profissional e voluntariamente na luta contra o HIV, seja com a oferta de assistência psicológica aos portadores do vírus, seus familiares, bem como na prevenção em diversos contextos, sobretudo nos estabelecimentos de ensino. 

Tanto que, por força do crescente e consistente surgimento do movimento social organizado em torno do combate à epidemia, nossa profissão aprendeu a se conectar às organizações não-governamentais, associações de bairro, enfim, a um sem número de agrupamento coletivos que uniram esforços para proteger as vidas das pessoas.

Para mais referências sobre essa temática, convidamos todas e todos a uma leitura atenta de algumas das publicações lançadas pelo Conselho relativas ao tema nos últimos anos. Essas e outras publicações estão disponíveis no Repositório Digital Fúlvia Rosemberg, mantido pelo Centro de Documentação do CRP SP, que completa 10 anos de dedicação à preservação da História e da Memória da Psicologia no estado de São Paulo.

Folder: Dia Mundial de Luta Contra Contra a AIDS: Contribuições da Psicologia para enfrentamento da epidemia entre jovens (2011)

Cartaz: Psicólogo(a), o seu fazer nos interessa! Agora é a sua vez! Profissional que atua no Programa nacional de DST e AIDS (2006)

Vídeo: A Psicologia na Saúde: Diálogos entre diferentes campos e práticas (2016)

Página Temática: Grupo de Trabalho Sexualidade e Gênero (2008)

Caderno Temático: Psicologia e Diversidade Sexual (2011)

Jornal Psi
Edição #51 - Aids, Psicologia e saúde pública (1988)
Edição #48 - A Ética Profissional no Trabalho com Pacientes de Aids (1987)
Edição #160 - Lançada referência para DST e AIDS (2009)
Edição #161 - DST/Aids: Ainda falta prevenção (2009)
Edição #182 - 15 minutos contra a indiferença (2015)

#PraTodosVerem: nesta publicação, além do texto, há um card de fundo em tons de azul e, sobrepondo este fundo, um laço vermelho.


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