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Psicologia sem capacitismo: Como produzir documentos éticos e inclusivos?
Publicado em: 25 de março de 2025
A Psicologia tem um papel essencial na promoção da inclusão e dos direitos das pessoas com deficiência (PcD). No entanto, práticas capacitistas ainda persistem, muitas vezes reforçadas por registros e documentos escritos que reduzem a subjetividade das PcD a diagnósticos e limitações.
Historicamente, a Psicologia e outras áreas da saúde seguiram modelos que enfatizavam a normalização e a reabilitação, sem considerar a autonomia e a singularidade das PcD. Essa visão reducionista reforça barreiras sociais e institucionais, impactando negativamente a inclusão e a qualidade do atendimento.
Em um contexto de crescente conscientização e sensibilização sobre as necessidades de acessibilidade e adaptabilidade, é crucial que os profissionais da saúde mental se comprometam com práticas éticas que garantam a dignidade, o respeito e o pleno exercício da autonomia das pessoas com deficiência.
A qualificação, a sensibilização e a conscientização são pilares para a construção de um atendimento psicológico que não apenas reconheça, mas também valorize a pluriversidade de experiências e perspectivas dentro da comunidade de pessoas com deficiência.
A proposta é garantir que a produção de documentos e registros escritos, como prontuários, laudos e relatórios, seja realizada de maneira a refletir de forma crítica os princípios da autonomia, da inclusão e da acessibilidade, sempre com foco na promoção de um atendimento ético, qualificado e respeitoso.
A Psicologia deve estar alinhada com as políticas de inclusão e os Direitos Humanos, refletindo um compromisso social, tal como o lema da gestão do XVII Plenário do CRP SP: "Diferenças que constroem, compromisso social e ético da Psicologia".
Definição de capacitismo
Capacitismo é a discriminação contra pessoas com deficiência. No campo da Psicologia, ele pode se manifestar na forma de atitudes, comportamentos, falas, relatórios, prontuários e laudos escritos, reforçando estereótipos e reduzindo as PcDs à sua condição.
Exemplo de escrita capacitista:"A deficiência do usuário impede sua adaptação ao ambiente escolar."
Exemplo de escrita inclusiva:"Com adaptações no ambiente e suporte adequado, o usuário pode se integrar ao contexto escolar de forma eficaz."
Casos em que um documento reforça barreiras
- Quando aponta a deficiência como única causa dos desafios enfrentados.
- Ao usar termos que reduzem a pessoa à sua condição.
- Se não reconhece o papel das barreiras sociais e ambientais.
- Quando exclui a PcD do processo, ignorando sua autonomia e participação ativa.
O profissional de Psicologia deve adotar uma abordagem ética, garantindo que a escrita reflita e promova acessibilidade.
Dicas para um prontuário ético e acessível
- Focar nas necessidades de apoio como construção da autonomia da pessoa.
- Usar uma linguagem descritiva e objetiva, evitando termos pejorativos.
- Incluir estratégias e recursos utilizados no atendimento.
- Garantir que a informação possa ser compreendida pela própria PcD.
Exemplo de escrita capacitista:
"O usuário não consegue compreender minhas orientações devido à sua deficiência."
Exemplo de escrita inclusiva:
"O usuário apresenta desafios na comunicação verbal, sendo necessário o uso de recursos visuais e linguagem simplificada para garantir compreensão."
O que evitar ao escrever um laudo
- Termos diagnósticos como justificativa única para dificuldades.
- Generalizações que desconsideram fatores sociais e ambientais.
- Expressões que sugerem incapacidade absoluta.
Exemplo de escrita capacitista:
"O usuário não demonstra progressos devido à sua condição de deficiência."
Exemplo de escrita inclusiva:
"O usuário e a/o psicóloga/o têm encontrado desafios em determinados aspectos do tratamento. Será avaliada a necessidade de ajustes na abordagem terapêutica."
Conheça a CIF
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) desloca o foco da deficiência para as barreiras sociais, estruturais e atitudinais. Saiba como utilizá-la:
- Analise e descreva o impacto do ambiente na funcionalidade do usuário, considerando facilitadores e barreiras.
- Valorize as estratégias de adaptação e participação.
- Adote uma abordagem biopsicossocial, integrando fatores individuais, sociais e ambientais.
Garantias que todo documento psicológico deve atender
- Respeito à subjetividade do usuário.
- Reconhecimento das barreiras sociais.
- Valorização da autonomia da PcD.
Exemplo de escrita capacitista:
"A deficiência do usuário impossibilita que ele tenha uma vida independente."
Exemplo de escrita inclusiva:
"O usuário tem demonstrado progressos na construção da sua autonomia, com apoio e adaptações necessárias para sua independência."
O que fazer para garantir o compromisso da Psicologia com a inclusão
- Capacitação constante sobre acessibilidade e inclusão.
- Produção de documentos que promovam a diversidade.
- Defesa dos direitos das pessoas com deficiência.
- Promoção de um atendimento acessível e de qualidade.
A Psicologia tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Confira as referências técnicas sobre este tema:
- Versão completa da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
- Manual Prático da CIF
- Código de Ética Profissional da/o Psicóloga/o
- Resolução CFP 001/2009, que versa sobre a obrigatoriedade do registro documental decorrente da prestação de serviços psicológicos.
- Resolução CFP 06/2019, que versa sobre a elaboração de documentos escritos.
#ParaTodosVerem
Card quadrado, fundo rosa e branco. Ao fundo, ilustração de camadas em tons de branco variados, se sobrepondo.