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Saúde mental no trabalho, riscos psicossociais e o papel da Psicologia


Publicado em: 11 de abril de 2025

Em 2024, segundo dados do Ministério da Previdência Social, o Brasil registrou 472.328 afastamentos relacionados a transtornos mentais no contexto laboral — o maior número da década. Esse número expressa, de forma contundente, os efeitos de modelos de organização do trabalho adoecedores.

Neste cenário, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP SP) se dirige a empresas, gestoras/es organizacionais e psicólogas/os, para sublinhar a importância da escuta especializada, ética e crítica da Psicologia nas políticas institucionais de saúde e segurança no trabalho.

O contexto de empresas e gestoras/es organizacionais

A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) — que, a partir de 26 de maio de 2025, torna obrigatória a inclusão dos riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) — representa um avanço normativo ao reconhecer a saúde mental como dimensão essencial da segurança no trabalho.

Estabelecida pela Portaria MTE nº 1.419/2024, essa medida reconhece formalmente que fatores subjetivos e relacionais — como assédio, sobrecarga, metas desproporcionais, isolamento, insegurança e discriminação — também são riscos à saúde, exigindo mapeamento, prevenção e enfrentamento estruturado pelas organizações.

A Nota Técnica CFP nº 18/2024, voltada à atuação da Psicologia nas organizações e no mundo do trabalho, destaca que práticas efetivas de cuidado demandam:

  • Análise dos modos de gestão, das culturas institucionais e dos fluxos laborais;
  • Propostas de transformação dos ambientes de trabalho a partir do fortalecimento da escuta e da valorização da experiência das/dos trabalhadoras/es;
  • Ações que promovam inclusão, diversidade e pertencimento, reduzindo desigualdades estruturais no cotidiano organizacional;
  • Estratégias coletivas de cuidado que visem à saúde das relações e das estruturas institucionais;
  • Produção de indicadores qualitativos e quantitativos sobre bem-estar, clima organizacional e qualidade de vida no trabalho, que orientem políticas mais eficazes e humanizadas.

Investir em saúde mental no trabalho, portanto, implica revisar profundamente os modos de gestão e os alicerces culturais das organizações. Nesse sentido, é fundamental que as avaliações psicossociais indiquem, com base em critérios científicos estabelecidos, os caminhos institucionais possíveis de transformação.

É preciso construir espaços laborais onde o cuidado psicológico integre diretamente as políticas institucionais. A escuta do sofrimento deve ser tratada como responsabilidade coletiva e ponto de partida para mudanças efetivas. O trabalho, por fim, precisa ser promovido como espaço de reconhecimento, dignidade e promoção de saúde.

O contexto da atuação de psicólogas/os

A Psicologia possui competências específicas para a promoção da saúde no trabalho, que incluem:

  • Análise crítica da organização do trabalho e de seus impactos psíquicos, considerando gestão, cultura institucional, formas de controle, vínculos interpessoais e condições laborais;
  • Formulação de estratégias preventivas, envolvendo reestruturação de processos, escuta ativa das/dos trabalhadoras/es e fortalecimento dos espaços de pertencimento;
  • Produção de documentos técnicos e éticos, pautados na Resolução CFP nº 06/2019, para subsidiar ações efetivas de prevenção dos riscos psicossociais;
  • Atuação conjunta com áreas de saúde ocupacional, recursos humanos e comissões internas, promovendo abordagens interdisciplinares.

Essas práticas se tornam ainda mais relevantes diante do expressivo aumento de afastamentos por causas psíquicas e da exigência normativa de mapeamento dos riscos psicossociais. A atuação da/o psicóloga/o organizacional deve ir além de abordagens centradas exclusivamente no indivíduo adoecido, voltando-se à transformação das condições laborais que geram sofrimento.

Considerações finais

A promoção da saúde mental no trabalho exige mudanças estruturais nas formas de organizar e gerir as atividades laborais. A obrigatoriedade da avaliação de riscos psicossociais, conforme estabelecido na nova NR-1, representa um avanço significativo no reconhecimento da saúde mental como dimensão essencial da segurança no trabalho.

A Psicologia, enquanto ciência e profissão, tem papel central nesse processo, ao atuar com criticidade, responsabilidade ética e compromisso com a dignidade das pessoas que trabalham. Cabe à categoria contribuir ativamente para a construção de espaços laborais mais comprometidos com o bem-estar coletivo.

 

#ParaTodosVerem

Card quadrado. Na foto, duas mulheres estão sentadas lado a lado, conversando perto de uma janela. Uma delas ouve atentamente com um caderno nas mãos, enquanto a outra fala. (fim da descrição)


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direitos humanos