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IV Prêmio Arthur Bispo do Rosário - Categoria Poesias e Textos




IV Prêmio Arthur Bispo do Rosário
Categoria: Poesias e Textos
Jurados: Lourival Farias Sodré , Joyce Cavalcante.

 

Nome da Obra: Eu ... (1º Lugar)
Nome do autor: Aparecido Cesar Joaquim Malardo

Eu...
Indiscutivelmente eu
Inalterado...
Tal qual resultei...
Invariavelmente eu...
Uma somatória inexata,
Das soluções praticas,
Da mente doentia...
Puro barro fundido,
A imagem verdadeira,
Do maior langor,
A deriva de mim mesmo.
Imperfeito....
Improdutivamente eu
Na minha mente tudo patina,
Nada se desenvolve,
Tudo morre...
O cair retumbante.
Imperceptivamente eu
Eu..., eu..., eu...
O centro do universo do meu perceber.
Circulantes na esfera

O imponderável.
O irreprimível.
Desconjurado.
Traga a mim...
Eu, pois bem...
Assim se fez, como bem o quis.
Eu, nas inquietações: onde as perturbações causam caos no inverídico.
Indo além....
Indo ai....
Morrendo.
Horrendo.
Irresponsavelmente eu.
Nos confins, perdendo-se, embreando-se, fazendo parte.
Eu... eu... eu...
Nas andanças, em todos os cansaços, nas desavenças, no submundo, no precipitar.
Eu, no continente perdido, no hemisfério direito, na transversal.
Sim... eu... somente eu...
Tão somente eu.
Imbuído de um espírito a profanar, de uma inquietude geral, de uma alma vã,
De uma cobiça desmedida: no centro.

Eu; tal qual fui designado: o predestinado.
Eu na algibeira do desconhecido, no desconhecido,
Desconhecido para mim.
No limiar do que é impossível, impraticável, na periferia de mim mesmo.
Eu... nadando contra a correnteza.
Indefectivelmente eu.
Nas correntes que me prendem ao destino desfraldado,
Como um mar coeso, diante de meus olhos.
No vórtice de todo o universo,
No momento culminante, no instante preciso, no formato ideal:
Porém morto...
Moribundo...
Vacilante...
Ressequido por dentro, vazio, todo vácuo e inércia,
Inerte: no fim do mundo, miniatura de mim, dentro de mim até o infinito finito.
O tédio acalentado, todas as coisas feitas, os problemas solucionados,
As equações resolvidas, os mistérios desvendados: o fim; eu,
Deus...
Não, apenas o fole, eu...

Sabes o que queres!?
Na imensidão do mundo,
Na confluência das possibilidades,
Que ramifica em desejos desconhecidos.
Sabes o que queres!?
Se o mundo é tão grande e expansivo,
Se as probabilidades são infinitas,
E se o seu ser não está bem estabelecido,
Se não assenta em vocações reais!
Sabes o que queres!?
Se a imaginação corre solta, e não tem freios.
Se as miragens assomam na sua frente.
Se elas lhe dão a ilusão do fantástico,
Do impossível.
Podes ao menos saber!?
No vendaval de pensamentos ondulantes,
Nas idéias que são ideais desfeitos ao vento,
Nas intransigências do ser.
Sabes por acaso!?
Atingir o ponto exato onde mora o seu eu.

 


 

Nome da Obra: Palavras ao Vento (2º Lugar)
Nome do autor: José Benedito da Silva (Kalazan)

As flores nunca se estressam.
As pétalas ao vento caem no chão
O vento bate suave.
Já esteve bem dentro do meu coração
Chuva que molha meu peito.
Lágrimas sentidas de algum animal
Portas que batem.
Abrem e se fecham.
Com o sopro do mar
Aves que voam tranquilas.
O ar que respiram é o mesmo que as alçam.
Ou não?
Vida dinâmica.
Não dorme,
nem para as sementes que morrem,
germinam o pão.

 


 

Nome da Obra: Máscaras
Nome do autor: Juventino José Galhardo Júnior

Corto o meu rosto
não qu'eu esteja cansado de vê-lo, no mesmo espelho
não qu'eu me perturbe com as velhas rugas
não,
o que me incomoda são as máscaras sobrepostas
a formarem inexplicavelmente eu.

(À artista plástica Rose Souto Maior e à Dra. Mitsi Virgínia R. do Nascimento)

 


 

Nome da Obra: Petrificado 
Nome do autor: Fernando Medeiros

Na pedra
Na costeira
Via sangue
Petrificado
Na umbreira
Via Sul
Petrificado
Com os passos
Já filmados
Patrificado
Pastificado
Feito pasta
No asfalto.
Mais um assalto
Petrificado
Como colina
Via Sul
Patrificado
Como prato
No anzol
Postificado
Sol a Sol
A enxada
O trabalho forçado.
Pontificado
No pastifício.
A cabeça no poste
Mais um mártir.
Pontificado
Os palácios ainda...
Não é o fim.

 


 

Nome da Obra: Um Dia na Clausura
Nome do autora: Carmelita Santos Fonseca

Como tudo começou...
Estávamos de mudança para outra firma.
Eu mandei que uma colega me comprasse um refrigerante.
Ela trouxe, e eu tomei, quando
senti um negócio descer minha garganta.
E então, os dias foram se passando, eu sentia
alguma coisa estranha.
Comecei então a fazer muitas coisas,
e ver outras do outro mundo.
Um dia estava dormindo e ouvi uma voz dizer
salve o ponto, e então eu respondi salve!
Levantei e fui pegar o ônibus que ia para a
firma em que eu trabalhava.
E então, os meses foram se passando, e
eu, dia a dia mais ruim, mais agitada.
Minha mãe não sabia como lidar comigo.
Fui levada para um Sanatório, e lá, fui internada, as
enfermeiras quase me mataram, uma delas
pegou no meu pescoço e quase me enforcou.
Então me amarraram, e eu fiquei lá por muitos
meses. Via muitos bichos descer pela parede
e entrar pela minha boca. Eu não comia,
nem tomava café porque minha garganta estava
fechada com um parafuso. Recebi alta e,
voltei para casa. Para me alimentar, era tudo
batido ou amassado.
Os dias foram se passando..., os meses também...
Fiquei um bom tempo de cama em casa, e
meses foram se passando. Os anos também,
e eu, nada de melhorar. Um dia, comecei a
ficar em crise novamente. Minha mãe me levou
em algumas igrejas, mas foi tudo em vão.
Não tive outra saída. Voltei para o sanatório
novamente. Fiquei mais alguns meses e lá,
eu via muita coisa. Um dia, minha mãe foi me
visitar, estávamos no pátio, quando, sem que
nós percebêssemos, um rapaz lindo, de olhos
verdes, se aproximou , sentou ao meu lado e
ali ficou... Eu rezei a Ave Maria para ele. Fui
ao banheiro, quando voltei, ele havia desaparecido,
minha mãe nem viu como. Fiquei
mais alguns meses internada, quando voltei para casa.
Os meses foram se passando, os dias também.
Um dia, fiquei em crise. Tudo de novo. Saía
pelas ruas sem saber das coisas que eu fazia.
Um dia, deitada no sofá, sem conseguir dormir,
vi luzes de todas as cores em cima do telhado.
Achava que eram discos voadores que
pegavam as pessoas que morriam. Nisso, os
meses foram se passando. Um dia, comecei
a ter crises de novo. Via arrastarem correntes
pelo quintal. Via sinos baterem. Fui internada
novamente. Via minhas pernas com uma bola de ferro.
E os dias e os meses foram se passando...
Entre uma internação e outra, vivia com essa angústia.
Voltei para a internação. Minhas crises
eram muito fortes. Precisava ser amarrada
e tomar muitas injeções de “sossega leão, e
também choque! Via muita coisa que acontecia
no além. Fui ao inferno para ver se o diabo
me ajudava, e então, fiquei presa lá. Uma
linda jovem apareceu para me tirar desse inferno
e, me levou para a casa dela. Era um
lindo lugar. Havia soldados bem vestidos e,
sua mãe usava roupas de cigana. Ela me levou
também para um lugar florido. Lá se sentou
numa mesa de jogos com outros seres,
que ofereceram suas almas! Ela perdeu minha
alma nesse jogo. Eu não sabia se tudo
isso era real ou imaginação da minha cabeça.
Mas, tenho certeza que quando passava por
essas crises eu sofria muito, porque estava
sempre num sanatório. Tomei muito choque
na cabeça, e muita injeção! Em outra crise,
me via na presença de Deus. Então, Ele me libertou
deste calvário. Deus está no céu, Cristo
na terra. O mundo não se acabou.

 


 

Nome da Obra: Trancas da Mente
Nome do autor: Sonia Maria Simão da Silva

Mônica menina, menina louca, louca menina de humilhações e
dor, pela incompreensão e preconceito, por loucas pessoas de
um mundo dito normal, por loucas pessoas que diziam amá-la.
Mas como amá-la, se ela era apenas uma menina louca, insegura,
solitária, triste, histérica e até agressiva? Mônica menina louca,
crescia e sofria as dores de amadurecer e tentar compreender
sua triste condição de menina louca, de louca menina, jovem e
mulher louca, em suas tristes e confusas internações em hospícios,
manicômios e sanatórios. Mônica menina, mulher louca.
Mônica jovem, (louca) lutando mesmo sem entender, para melhor
poder viver suas agonias e tristezas, e as alegrias nunca
sentidas, nem mesmo para não conseguir fazer brotar um sorriso
de verdadeira alegria, mesmo louca em seus lábios. Mônica
mulher louca. Mônica que com o passar do tempo lutou cada minuto
de sua vida, mesmo que as vezes não entendia o porque,
mas lutava, lutou e venceu algumas batalhas, conseguindo, até
mesmo trabalhar, casar e ter filhos, Mônica que lutou e venceu
essas batalhas sempre querendo ganhar a “VITÓRIA DE UM VIVER
NORMAL”. Mônica que vencendo essas pequenas batalhas,
foi acumulando progressos em sua vida para chegar a sua VITÓ-
RIA ALMEJADA, que seria vencer a sua doença e os preconceitos
que dela derivam, mas Mônica, jovem, adulta e mulher, e louca,
muito conseguiu, mas muito perdeu, sua vida era de altos e
baixos, conquistas e perdas, mas Mônica nunca deixou de lutar,
em seu coração sentia que um dia seu caminho certo iria encontrar,
e até feliz poderia ser, como uma pessoa NORMAL poderia
viver. Então quem sabe apenas Mônica poderia ser. Mas para
Mônica uma dessas perdas, foi talvez a mais triste, o abandono
de seus filhos tão amados, que influenciados, por aquele que
por ela só desprezo sentiu, e como pai de seus filhos a afastou,
e seu pobre coração em pedaços se rasgou, mas nesta luta ela
continuou, o tempo passou, e ela pelo amor e o carinho de seus
filhos sempre lutou, de todas armas do amor usou, mas nunca
conseguiu esse amor recuperar, mas para Mônica enquanto a
vida existir, ela irá persistir e pelo direito de ser mãe, mesmo
que velha esteja, algum dia em seu coração ela almeja sentir a
palavra “MÃE”, dita com amor e respeito e principalmente compreensão,
mesmo que seja antes de seu último suspiro sua esperança
nunca se acaba de ver nos olhos de seus filhos o amor
que nunca conseguiu, e essa esperança, lhe dá forças para seguir
adiante. Mônica jovem mulher louca, até mesmo com a família
amenizou as adversidades da convivência diária e difícil, e até
compreensão encontrou, e o apoio dos pais que tanto desejou,
enfim em seu coração recuperou e em seu dia a dia perpetuou.
Mônica mulher louca, que desde a infância, amigos procurou,
nessa longa viagem, encontrou, dividindo, solidão, tristezas e
sofrimentos e os tormentos da loucura, e essas amizades se solidificou,
trocando experiências mútuas, uns com os outros se
ajudaram, para mais uma vez vencer, o preconceito, e o jeito
triste de sofrer. Mas uma vez o tempo para Mônica mulher louca
passou, e para ela e seus amigos a vida os transformou. Até
que um dia se encontraram e mais uma vez seus corações se
alegraram, pois juntos num outro lugar se cruzaram para poder
se tratarem. Mônica e seus amigos no CAPS foram parar e para
alegria de todos, o respeito conseguiram sentir e encontrar, um
lugar onde todos sabiam respeitar, e com carinho tratar, aqueles
que de amor precisavam para vencer, e juntos os preconceitos
superar, pois muitas dificuldades em suas mentes atormentadas,
lutavam sempre para isso encontrar.
Agora se tratavam sem precisar se internar, mantendo contato
com a família, que agora os conseguia amar, e o mundo que
tinham que superar, além do apoio dos psiquiatras, psicólogos,
e todo tratamento que necessitavam para melhorar. Mônica mulher
louca, e seus amigos, depois dessa luta que anos durou,
cada um seu caminho encontrou. Uns conseguiram trabalhar,
outros até se casar, e todos ainda continuam a se tratar sem no
isolamento precisarem ficar, afastados de todos, e drogados,
calados sem poderem se expressar. Agora suas idéias são ouvidas
e a maioria valorizadas e até aproveitadas para outros ajudar,
em seus caminhos também conseguirem superar. Mônica
e seus amigos, depois de tudo que sofreram, ainda hoje lutam
suas batalhas diárias, almejando sempre chegar a “VITÓRIA”.
“VITÓRIA”, que na realidade, cada dia, cada situação, cada problema,
cada dor superada, cada preconceito enfrentado é uma
“VERDADEIRA VITÓRIA” feitas de muitas “GLÓRIAS”. “VITÓRIA”,
feita de pessoas que possuem problemas em comum, vencendo
as barreiras do preconceito, das internações e da sociedade.
Pessoas que muito lutaram para poder terem uma “VIDA NORMAL”,
mesmo que para todos os outros, isso fosse anormal,
QUEM SERÃO REALMENTE OS LOUCOS? Mas se trocarmos os
que são chamados loucos em manicômios, e colocarmos no lugar
deles os normais, esses normais será que irão agir exatamente
como os que eles chamam de loucos? Com certeza com
o mesmo tratamento, com o mesmo isolamento, e preconceito
e discriminação, desprezo e falta de amor, todos acabam se
sentindo iguais em seus corações, e suas mentes lhes dirão,
o que você é? Louco? Normal?, quem és afinal. Trancados em
jaulas como animais, comendo restos dos mortais, sendo drogados
como inúteis, amontoados pelos cantos, com suas vontades
extirpadas, suas mentes vazias, apenas o olhar apagado e
distante e às vezes ainda piscando é que mostra sinais de vida,
vida de apenas um coração que bate, mas suas vontades foram
arrancadas, nem mesmo sabem do que gostam, às vezes alguns
clarões de memória trazem alguma luz para seus corações, mas
logo a seguir, se apaga, como uma lanterna que acabou a pilha,
e só aqueles que detém o poder de suas vidas podem acendêlas
novamente. Por isso ficam no escuro às vezes para sempre.
LOUCURA??? Como assim? As pessoas dizem, estou louca de
vontade de comer um doce, (o doce é algo bom, a loucura não),
um apresentador de TV diz, loucura, loucura, loucura, para anunciar
as suas programações, (suas programações são boas, mas
e a loucura?, como se justifica nisso?) outros ainda dizem, estou
louco de amor por aquela menina (o amor é bom, mas e a
loucura?) E ENTÃO? NÓS É QUE SOMOS OS LOUCOS??? Os que
possuem trancas na mente, lutam para encontrar a chave e se
libertar, esperando conseguir se livrarem delas e das correntes
invisíveis que aprisionam seus sonhos, lutas e idéias, mas as
trancas podem aprisionar a qualquer um em qualquer momento
da vida, elas chegam de mansinho, e quando percebem ela
já nos trancou, por isso a luta contra as TRANCAS DA MENTE, é
diária e eterna. E essa é a história real de Mônica menina, louca,
Mônica menina jovem louca, Mônica menina mulher louca,
Mônica sempre louca, Mônica louca, pois contra esse mal ela
nunca vai deixar de lutar.

 


 

Nome da Obra: Prece do Doente Mental
Nome do autor: João Ramos

Eis-me diante de vocês
Degradado de corpo e de mente
Traste humano
Arremedo de gente
Escória da sociedade
Objeto de riso e de choro
De escárneo, de medo e de raiva
Eis-me diante de vocês
Corpo estigmatizado
Catatonisado pela doença
Ou pelo tratamento
Tornado inapto para a convivência
Olhos que já não sabem olhar
Ouvidos que já não sabem ouvir
Boca que já não sabe falar
Rosto que já não sabe sorrir
Braços que já não sabem abraçar
Mãos que já não sabem acariciar
Eis-me diante de vocês
Carente e suplicante
Pedindo humildemente que
Olhem-me
E restituam-me a capacidade de olhar
Escutem-me
E restituam-me a capacidade de falar
Fale-me
E restituam-me a capacidade de ouvir
Sorriam-me
E restituam-me a capacidade de sorrir
Acariciem-me
E restituam-me a capacidade de acariciar
Abracem-me
E restituam-me a capacidade de abraçar
Acolham-me
E restituam-me a capacidade de Acolher
Curem-me
E restituam-me a capacidade de viver

Aos trabalhadores da Saúde Mental

 


 

Nome da Obra: Apenas Frases
Nome do autora: Maria Aparecida Martins

Me perguntaram se sou loca
Por ser feliz?
Respondo que sim pois só os loucos são capazes de enxergar a felicidade
dentro de si
As maiores loucuras são as mais
sensatas.
Tudo que fazemos hoje deixamos de recordação para aqueles
que no futuro desejem ser como nós
louco por serem felizes!
Li todas as perguntas, refleti
Pare de pensar nelas
Achei as respostas
Olho para um lado e não vejo
diferença, olho para o outro e vejo todos iguais
Me pergunto: Pra que tanta intolerância?
Afinal de contas somos todos farinha do mesmo saco
Me perguntaram se eu era feliz
Respondi – A felicidade é um silêncio
para mim um vento no rosto, um sorriso inesperado.
Então sorriram e fiquei feliz
Quando lêem o que escrevo
Sempre me perguntam:
O que você quis dizer: Eu sempre respondo, Nada são apenas frases.

 


 

Nome da Obra: Sensual
Nome do autor: José Roberto Ferrari

Era por volta de 12:00h quando Paula e Alex acordaram,
aquele quarto enorme, a cama forrada com lençóis
de cetim, toda desarrumada, roupas intimas jogadas
pelo chão, um quadro que sugeria a idéia que estavam
nus e que certamente a noite fora extasiante. Os vestígios
indicavam que apenas algumas barras de chocolate
e muita champanhe haviam sido consumidas. Paula,
com olhar lânguido e feliz pelo clímax vivido durante a
noite, vai para o chuveiro e Alex a acompanha lenta e
carinhosamente.
Já vestidos com roupas leves, descem ao restaurante
do “Las Dunas Resort”, em Punta Del Este. O maitre
sugere um Saint-Emilion safra 1963, - “É o mais velho
que temos”, o casal pede um filé
ao roquefort mal passado, e após o almoço vão as
compras no shopping.
Ana Paula e Alessandro Bergantini se conheceram
casualmente num desses bares para descolados em
Curitiba. Ana Paula, paranaense do interior, sua pele
clara, olhos castanhos e cabelos levemente cacheados
serviam de moldura para o corpo escultural por natureza,
já que detestava malhar. Na época com trinta e
dois anos, um par de seios maravilhosos e derriére de
fazer inveja a Jennifer Lopes. Mudou-se para Curitiba
ao terminar um relacionamento amoroso de três anos.
Formada em administração de empresas com especialização
em uma universidade americana, dominava
fluentemente o inglês e espanhol, além do português,
não teve dificuldade em se empregar como secretária
da gerência numa empresa multinacional. Apesar desses
atributos, Paula era uma moça de hábitos simples,
curtia uma boa leitura e gostava de ouvir MPB, além
de passear nos shoppings. Bares e boates sempre em
companhia das amigas de trabalho.
Alessandro, publicitário paulistano bem sucedido e
radicado no Paraná, possuía com dois amigos uma bem
sucedida agência em Curitiba. Divorciado de Katia, mulher
bonita e delicada com quem tivera uma filha; não
conseguia, apesar do tempo, superar o trauma deste
casamento. Bonito, rico e jovem, recusava-se a se envolver
afetivamente com outra mulher, preferia os casos
de curta duração.
Numa dessas noites de Alfa-Bet (grafia correta, a letra
“o” fora omitida propositadamente), o bar temático
onde freqüentava com amigos, e Paula também, embora
não se conhecessem, o destino tramou um encontro que
mudaria a vida de Alex, como era chamado intimamente,
e atrelaria definitivamente seu futuro com Paula.
Nessa mesma noite, Paula e algumas amigas comemorava,
também no Alfa-Bet, uma promoção recebida,
fora destacada para o cargo de secretária executiva na
matriz da empresa, que ficava em São Paulo. Isto lhe
proporcionaria a possibilidade de alavancar sua carreira
e melhorar seu currículo profissional, além da expectativa
de morar numa cidade fantástica.
Excitada pelo ambiente a meia luz e a música sugestivamente
dançante, Paula se acomodou numa poltrona
rente ao balcão e pediu um “Maraska”, seu drinque
preferido a base de martini club, vodca e gelo. Enquanto
sua mente vagava rumo ao futuro; Alex, no ambiente
externo do bar, apreciava um bom Chivas Regal, com
muito gelo, em quantidade suficiente para deixá-lo descontraído.
Devia ser meia-noite quando resolveu se retirar,
mas, ao passar pelo entorno do balcão, um passo
em falso no tapete frisado, lançou-o desastradamente
sobre um garçom que virou uma bandeja em cima de
Paula. Eram batidas de maracujá e ela sentiu o líquido
escorrer pelo pescoço, descer pelo decote, atravessar
o vestido, inundar suas costas.
Chocada, não gritou, não se moveu. Atônita, não
entendia o que tinha acontecido, sentia apenas o cheiro
forte do maracujá, misturado a vodca, impregnando
suas roupas e seu corpo. O líquido melava e ela continuava
em estado de choque, até despertar com o grito
de uma amiga.
Até aquele momento, mal sabiam que compartilhavam
problemas semelhantes, e que no passado causara
a destruição de seus relacionamentos. Paula, de
aparência meiga e tranqüila, tinha uma verdadeira obsessão
por sexo. Era incansável e criativa em suas fantasias,
freqüentava regularmente Shop-Sexy a procura
de novidades para apimentar seu relacionamento, entretanto,
seu parceiro raramente a satisfazia. Com Alex,
o problema era diferente, sua libido era normal, mas
Katia sofria de um problema recorrente nas mulheres,
sentia muitas dores no momento da penetração vaginal.
Preferia as preliminares, que convenhamos, praticava
como ninguém, ao invés da consumação do ato,
fato que com o passar do tempo desgastou o casamento.
“Mexa-se mulher! Levante-se, faça alguma coisa!”
A primeira coisa que fez, enfurecida, foi correr até Alex,
para protestar, porém ele a recebeu num lance de puro
romantismo, ajoelhou-se e desculpou-se cavalheiramente
pelo acidente que causara. Foi o suficiente para
que os freqüentadores atônitos aplaudissem o casal.
Alex beijou levemente suas mãos e se prontificou em
levá-la para casa e paz reinou novamente.