II Prêmio Arthur Bispo do Rosário - Categoria Poesias
II Prêmio Arthur Bispo do Rosário
Categoria: Poesias
Jurados: Ana Maria Lofredo, psicanalista e prof. do IPUSP; João Bosco Alves de Souza, psicólogo e escritor; Selma Ciornai, psicóloga, coord. do Curso de Arte Terapia do Sedes Sapientiae.
Nome da Obra: Estou Enlouquecida (1º Lugar)
Nome do autora: Mria Haydee Sorensen
estou enlouquecida
pelas ruas que se cruzam no abismo,
pelos joelhos fraturados do tempo,
pelas margens do rio sem peixes,
pela verde angústia das folhas
e pela lua que sai de teus dedos.
estou enlouquecida
pelo presente que chora numa garrafa fechada,
pelos tímpanos feridos do homem sem gravata,
pelos livros inúteis que querem ser estrelas,
pelo tédio que prega um quadro na parede
e pelo silêncio de tuas sardas.
estou enlouquecida pela consciência que se agita como um pássaro sem
asas,
pela estranha virtude das terras estéreis,
pelas quatro mãos da loucura que me apertam o tornozelo esquerdo
e pela veia intumescida da dor da espera.
estou enlouquecida
enlouqueço apertando entre os dedos
um fruto áspero como uma idéia,
um fruto marrom e desconfiado
como todos os frutos do medo
estou enlouquecida
(a tarde é tão mansa)
leões enjaulados palpitam em meus seios
meu rosto é cansaço sem enigma
meu amor é de barro e sem enfeites
meu sexo dorme no fundo de um copo
estou enlouquecida
reflito espelhos a cada instante
e tranco a razão, com chaves abstratas, dentro de
um aquário
estou enlouquecida
muito
mastigo a vitória do silêncio em tuas ausências
e, em breve, tocarei apenas teus cílios
para poder morrer até amanhã
Nome da Obra: Cheiro de Mãe (2º Lugar)
Nome do autora: Magda Christina de Souza
Saudades de toques, acordes e risos...
Quando a tarde finda, acende-se o lampião.
O vermelho do crepúsculo tem a leve transparência de véus - vermelho
hibiscus.
O balanço da rede na varanda sabe.
O cheiro de hortelã com um leve toque de sândalo.
O doce canto do vento nas folhas da mangueira - sabe a infância sofrida
mas protegida pela centenária mangueira.
A cadeira vazia está. Num canto escondido, empoeirada. E a mesma
poeira
encobre as cordas do violão
, já não vibram mais.
A tarde cai mais tarde,
O tempo custa - a passar - posto que - a saudade - presença do
ausente -
tomou todo o lugar.
O agridoce sabor do tempo ido
o antigo cúmplice - mais que amigo.
O tempo apagou sua energia, em doces rugas tornou-se o sorriso,
de pai alegria, correndo o véu de uma doce lágrima.
Sol no olhar, lua no sorriso, trazendo certa melancolia
E o coração a bater melodia triste
e nada se sabe, nada se disse
Nome da Obra: Ciclo (3º Lugar)
Nome do autor: Elinée Rodrigues
Acredito
No grão que se torna trigo
No trigo que se torna pão
No pão que alimenta o homem
No homem que alimenta o sonho
No sonho que alimenta a vida
Na vida que alimenta a terra
Na terra que alimenta o universo
No universo que compreende o grão
Nome da Obra: Conquista
Nome do autor: Albertino Teodoro
Tinha certeza que um dia.....
Depois que a luta acabasse
Depois que amanhecesse,
e a noite negra passasse.
Certeza absoluta, eu tinha!
Depois do choro calado
Depois dos laços quebrados,
Depois que o sangue estancasse...
Que eu te encontraria......
Anda que o sol parasse
Que o corpo voltasse ao pó,
e só a alma restasse.....
Tu me pertenceria,
Por direito, cedo ou tarde
E eu feliz voaria,
Em tua asas.....
Liberdade!
Nome da Obra: Contigo
Nome do autor: Roselisa Crespi Martins
Com você
A vida inteira
Sem você
Ribanceira
Com você
Azul e amarelo
Sem você
Desmantelo
Com você
O sonho compraz
Sem você
Durmo demais
Com você
Asas em vôo
Sem você
Ancoradouro
Com você
Dedução
Sem você
Desolação
Com você
Noite ao luar
Sem você
Estrela do mar
Com você
Paço do sim
Sem você
Poço de mim.
Nome da Obra: Limoeiro
Nome do autor: José Heronides de Paula
Lá no senão de Pernambuco tinha um riacho
Neste riacho tinha um pé de limão
Foi encontrada uma estátua
Esta era São Sebastião
Numa nascente da Serra da Passirca
Aonde está o rio Capibaribe
E onde mora o Sr. Ataide
Em segundo lugar veio o rio Beberibe
Que alagou Recife
A cidade ficou toda alagada
Na Serra do Urubu
Onde tem uma criação de anu
No alto de São Sebastião
No meu tempo de menino
Brinquei, brinquei muito
Nesse tempo de criança
Começou o meu destino
Lá naquela serra enorme
No canto onde se dorme
Do Urubo se vai a
Serra do Redentor
O nosso protetor
E assim o tempo termina
O meu tempo de menino
Hoje São Sebastião
É o nome da cidade de Limoeiro
Por isso todo ano tem festejo
Nome da Obra: Maturidade
Nome do autora: Radiá Magalhães Pimenta
Limpe a mesa
Coloque a taça
Dispa os sonhos das mil cores que possuíam
Destrua o pedestal de si próprio
Meça as palavras
Dê-Ihe outro tom
Conte o caminhar
Quartos passos para a chegada
Veja, a paisagem nem é mais aquela
Está desprovida do belo
O sol é mais ameno, o respirar mais lento
O caminho está mais perto
Menos pessoas, o essencial é estar só,
Sentir o próprio coração pulsar
A grandeza de chegar sozinha
enquanto a multidão dissipa
Cospe o sol, aplaca a tua ira
Diz adeus aos dotes
Inteire-se de que doravante
É o fruto do outono na paisagem
Melancolia deste lugar
Onde estão as quimeras?
Fale baixinho, seja discreta
Pois Deus pode escutar o seu bravejar
Trace a sua meta, olhos postos no horizonte
Contemple o mundo, reze baixinho
Sussurre um nome, seja dócil, meiga
Aceite as coisas que ainda restam
Exigência é coisa descabida agora
Segure para si o melhor da safra
A colheita é aquela que você plantou
Faça da fruta o melhor suco
Beba-o, ouse pedir companhia para o desfrute
Senão beberique sozinha
Sorvendo
Sota a gota o sumo da Vida
Onde estão todos?
Hum...acho que beberam
Os seus sumos, e já se foram...
Esperem por mim
Os outros estão longe
Escutem-me
Irei alcança-los
Depois de caminhar e beber.
Nome da Obra: Meus Gostos
Nome do autora: Marli Donizete Braga de Oliveira
Meu nome é Marli Donizete Braga de Oliveira.
Moro onde não mora ninguém.
Gosto de música de dançar
Gosto de batata-frita e também de abóbora de churros,
cachorro-quente e de cereais.
Gosto também de sonho de bolacha, não sua fidida de
pum eu não gosto.
Gosto também de feijão de arroz de bife a role e de
Deus.
Presente, bolacha.
Tudo se perdeu. Foi tudo em vão
Eu preciso te esquecer e ter que seguir sem pensar em você.
Nome da Obra: Quero Provar os Espelhos
Nome do autora: Maria Haydee Sorensen
quero provar as espelhos
as faces mortas
as traças da homicídio
o peixe do medo
e o pingo de água
julinho, todas as noites, uivava para a lua
e não era um cão, era um menino
esquilos sobem as escadas do sobrado
lá mora um homem
o sol açoita os loucos
e os canibais sem pupilas
que povoam meus lençóis
e eu penso
que gostaria de mover o braço sobre a mesa
e dizer qualquer coisa de angélicas e cravos
e amor
e outras coisas mais
não dá
quero provar os espelhos
estes que incendeiam minhas noites
quero provar as minhas mãos
estas que recolhem os mortos às quartas-feiras
quero provar o movimento de meus pés
estes que pisam selvas distantes
julinho uivava todas as noites para a lua
e não era um cão - era um menino
já é tarde, já é tarde - a lasanha esfria
Nome da Obra: Razão
Nome do autor: Juventino José Galhardo Júnior
Sob o carvalho,
Entro em mim,
Labirinto que sou,
(brumal)
Encruzilhada...
Por onde seguir?
(uma estrela cadente rasga o céu).
Sou!
Universo inserido no universo.
No rosto,
Rugas-detritos
Temporais.
No fim da escada
Sinuosa,
Atiro a máscara incolor.
Nome da Obra: Sem Título
Nome do autor: Camilo Leite
Quando eu levanto,
Meu passo são leves
Dai eu vou para o sítio
E chego
Vejo as árvores tudo com sombra
Dai eu chego e os animais
chegam perto de mim
Dai eu vou dormir
e os animais em volta de mim
condo eu descanso levemente
e vou para a mina
tomar água bem geladinha
eu vejo os animais
em volta de mim
eles ficam triste porque eu vou embora
andando bem devagarzinho
e eu sinto a beleza
que eu deixei para traz.
Mas é quando chego em casa
Eu vejo
O portão se abrir
E eu entro no meu quarto
E alembro de todos os colegas do hospital
E fico alegre
de toda turma que trabalha aqui
fica contente de muita sabedoria
por isso que tenho de obedecer.
Que eu ando na felicidade
E eu não tenho que pagar todo mundo
Mas minhas palavras é poucas
Mas é pagas.
Que eu sinto no meu coração
E a hora que eu chego na igreja
Para Deus dar felicidade para todo mundo
Daqui de dentro essa é
a minha alegria
do meu professor
que ta mandando escrever.
Nome da Obra: Você não é Ninguém
Nome do autor: Kleber da Silva Tavares
Você carrega no peito um coração
Você é também
A solidariedade do irmão
Você é alguém
A loucura é de todos
Você é também
O descaso dos bobos
Você diz amém
Pra falta de irmandade
Que corta adição meu bem
Amor sem ter saudade
Você não é ninguém
Eu sei que sou louco
Se você é alguém
Por favor ajude um pouco
Freud tudo explica
A vida daqui aquém
De quem se complica
Mas eu sou alguém
O abastado vai bem
A enfermeira cuida dele
O pobre vive sem
O que aquele tem
Eu sou um sonhador
Com a minha ilusão
Vivo a minha dor
Ferida vive meu coração
Se você é alguém
Sou médico e louco
Que todo mundo tem um pouco
Mesmo sendo um ninguém
Aqui dentro do manicômio
Eu sou sempre mais um
Quem parece idôneo
É o cidadão comum
Aqui dentro da minha vida
Cabe a palma da minha mão
Se sou louco, insano, perigoso
A arma no trânsito está na mão
Aqui dentro do meu sono
Moram pesadelos que não se vê
Eles vagam no outono
No outono que não é de você
Se você tem alguém
Se agarre a ele pra viver
Porque a camisa de força
É anulação de quem quer ser
Agora não tenho força
Já não sei o que é ter
Ter é pouca joça
Ser é o quero ser
Finda com a esperança
Do que tinha para dizer
No retrato a lembrança
Do que eu podia ser o grito ameaçador do medo
Ameaça a ameaçadora sociedade
Põe a ferida no dedo
Gesto oposto da alteridade
Ame o seu "louco"
Dane-se o conforto
Viva aquele soco
Na barriga de todo morto.
Nome da Obra: Sem Tempo
Nome do autora: Lígia Silva
Nada se move
nada muda
o tempo parou.
A agenda aberta da semana que corre
é do ano que passou.
No quarto vazio a vidraça fechada
impede a troca de ar.
Mas no outro quarto
onde ainda há gente
o passado vem do presente -
E se o rádio-relógio toca sempre o mesmo
é porque nada de novo aconteceu.