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Retratos CRP SP: Bruna


Publicado em: 1 de dezembro de 2020

“A chuva cai lá fora sem parar, mas com Bruna Marsanovic não tem muito tempo ruim, nem cerimônia. Depois de cinco minutos de conversa, você se sente à vontade e parece que a conhece há anos. Aos 26 anos, expressa saúde, vigor e amor: recentemente juntou as escovas de dentes com o novo namorado numa casa na Zona Leste de São Paulo. No meio do papo, mexe nos cabelos, faz brincadeiras, atende o telefone - pode ser a confirmação de mais um casting ou a resposta de uma entrevista de emprego. Ela está aí, na luta, como tantas mulheres. Curte baladas, festivais de música e ainda tem tempo de treinar e competir como atleta amadora de rugby. Bruna é paraplégica.

“Eu sou muito feliz como cadeirante, por ter me encontrado, por ter aprendido, mesmo na dor, a dar valor ao que importa. Mas não fico feliz de como ocorreu.” Vítima de violência doméstica, hoje ela fala sobre o episódio com certa tranquilidade. Numa tentativa de terminar a relação com o então namorado, que já apresentava comportamento abusivo, ela foi espancada e arremessada de uma altura de 12 metros. Bruna chegou em estado grave ao Hospital de Clínicas e lá flertou com a morte. Os médicos disseram que, se ela saísse do coma, ficaria em estado vegetativo. Depois de três meses, para a surpresa de todos, começava uma nova vida. “Eu só reclamava de fome no hospital, para falar a verdade!”, diz ela, entre gargalhadas. Ela convive com uma lesão medular que lhe reduziu bastante a mobilidade, mas não lhe tirou a energia e nem a fome de vida. “Vou me reinventando a cada dia!”. O ex-namorado e agressor está cumprindo pena pelo crime.

Para ela, a sociedade ainda tem um tabu muito grande em relação às pessoas com deficiência, mas aos poucos acredita que isso pode mudar. “Não sou menos mulher por causa da deficiência. A gente segue vivendo, estamos mostrando que somos capazes, que às vezes precisamos de ajuda - e muitas vezes, não. Eu me viro.” No rugby ela encontrou amigos, acolhimento e uma válvula de escape. “É na quadra que eu renovo minhas energias, coloco minha força, é adrenalina a mil! Temos uma conexão muito forte.” Para além do estilo de vida que mudou completamente, ela também nota transformações mais profundas. Pensa mais no futuro e vê no diálogo a chave de um relacionamento saudável. “Sempre tem briguinhas em qualquer casal ou família, claro, mas tem que conversar. É assim que se resolvem as coisas. Isso sim é parceria, companheirismo. Isso é querer crescer junto.”

A alegria não é nada ingênua e sim, potente. Bruna tem plena consciência da própria história de superação. Quando indagada sobre suas inspirações, ela cita três: sua mãe, Paula, fiel companheira nas horas mais difíceis; a equipe Ronins, que é o primeiro time de rugby em cadeira de rodas da capital paulista; e ela mesma. “Eu sou minha fonte de inspiração. Olha tudo o que eu passei e olha aonde eu cheguei! Eu pensava que minha vida ia acabar, ou que ia ser em cima de uma cama. E olha eu aqui!”.

Quero abrir os braços para outras mulheres, porque eu sei o quanto nós precisamos ser ouvidas. Muitas vezes tem que ser alguém que passou por isso. Nós sabemos o que é estar nas mãos de um agressor. Eu superei muitas questões com acompanhamento psicológico e minha rede de apoio.” A rede de apoio, aliás, é importante manter por perto sempre, porque a violência geralmente só aparece quando você já está completamente envolvida, e vem com muita manipulação. “O perfil do agressor vai eliminando as pessoas ao seu redor: sua família, seus amigos. Eu me via numa caixa e por todos os lados só tinha ele. Eu não conseguia acessar fora da caixa.”

A Bruna atual está fora de qualquer caixinha e, aliás, não caberia em nenhuma. Ela não  mede palavras para dar seu recado: “Mulheres: não aceitemos menos do que a gente merece! Se tem alguém de fora do relacionamento querendo lhe dar dizer algo, escutem. Escute quem te ama. E se ame!”

Bruna aceitou compartilhar a sua história para os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e assim mobilizar cada vez mais afetos nesta luta que é de todas e todos. O CRP SP adere ao movimento dos 16 Dias e reforça que a Psicologia se faz em defesa de todas as mulheres. 

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#PraTodosVerem a matéria traz dois retratos da Bruna. Em um deles, vemos o perfil em um close muito próximo ao rosto de Bruna. Ela olha para a câmera firmemente. Tem os olhos castanhos e os cabelos castanhos escuros e a pele clara. Na segunda imagem, Bruna aparece em sua cadeira de rodas, sorrindo, inclinada para fazer carinho na sua cachorra de estimação. Bruna e a mascote estão na cozinha da casa de Bruna. Bruna usa calça e camiseta escuras e brincos de argolas grandes nas orelhas.