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Dia Nacional da Luta contra o Racismo – A opressão que não terminou


Publicado em: 13 de maio de 2022

O sistema escravista foi finalizado, sob o ponto de vista formal e legal, com a assinatura da Lei Áurea, há 134 anos, em 13 de maio de 1888. Essa conquista foi marcada pela luta e resistência do povo negro. Contudo, nos aspectos social, econômico e político, a abolição não foi concluída, por isto, já há algum tempo, os movimentos negros entendem o 13 de Maio como o dia para se refletir sobre a abolição inconclusa.

Apesar de serem libertos negras e negros do regime escravista, não houve reparações históricas, tampouco as condições foram alteradas para sua inserção social, deixando-os abandonados à própria sorte, como diria Florestan Fernandes. Sem dúvida, a libertação proporcionou uma ruptura histórica de enquadre na qual a/o negra/o era interpretada/o como mercadoria, como mão de obra compulsória em todos os ciclos da cana de açúcar, café, ouro, como assinalou o historiador Luiz Felipe de Alencastro no livro “O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul” (São Paulo: Companhia das Letras, 2000, 525 pp.)

Essa exclusão histórica ficou ainda mais escancarada no momento pandêmico do novo coronavírus. Levantamentos realizados no período de 2021 e 2022 sobre o impacto da doença na população negra demonstram que pessoas negras são as que mais morrem de covid-19. Além disso, os efeitos do racismo estrutural deixam marcas indeléveis. 

No campo educacional, apesar de um crescimento no acesso de pessoas negras às escolas, quatro em cada dez jovens negras/os não terminaram o Ensino Médio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de abandono da escola entre jovens negras/os é de 7,8%, enquanto, entre jovens brancas/os, a mesma taxa é de 5% de acordo com o IBGE. Além disso, enquanto o analfabetismo entre negras/os é de 8,9%, o mesmo problema aparece em 3,6% da população branca nacional de acordo com o mesmo instituto. Como agravante, existe uma diferença salarial de 31% entre brancas/os e negras/os de acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva feita em 2020.

Há ainda o grave problema com a violência estrutural, que interfere na garantia do direito à vida da população negra: 75,7% das vítimas de homicídio no país são pessoas negras, número contabilizado pelo Atlas da Violência 2020. O mesmo material revelou que os assassinatos de negras/os cresceram 11,5%, enquanto a mesma estatística em pessoas não negras diminuiu 12,9%. Ao lado disso, o sofrimento psíquico é cada vez mais acentuado, sintoma do racismo estrutural que dificulta a grande parcela da população negra circular livremente em espaços sociais, ir e vir sem temer e exercer o direito de existir sem que a geografia do seu corpo negro seja alvo de violência simbólica.

Nesta data emblemática, convidamos Clélia R. S. Prestes, doutora em Psicologia Social (USP) e psicóloga (CRP 06/135410) do Instituto AMMA Psique e Negritude, para uma entrevista evidenciando algumas questões sobre o tema. Clique aqui e acesse o vídeo.

O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, alicerçado nas pautas e na luta antirracista, indica publicações que orientam a atuação profissional de psicólogas/os pela promoção da equidade racial, como também destaca subsídios para o enfrentamento da violência estrutural e seus impactos na saúde mental.

A Psicologia no enfrentamento do racismo: O que eu tenho a ver com isso? Resolução n.º 018/02
Racismo é uma maneira de discriminar as pessoas baseada em motivos raciais ou cor da pele, um conjunto de ideias que defende a superioridade de uma população e inferioridade da outra. O racismo pode levar a grande tristeza, angústias, ansiedade exagerada, depressão, isolamento, culpa, medo, vergonha, solidão, desconfiança, dificuldades nas relações sociais e afetivas, dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima, entre outros agravos em saúde. Clique aqui para ler a publicação.

II Prêmio Jonathas Salathiel de Psicologia e Relações Raciais
O Prêmio Jonathas Salathiel de Psicologia e Relações Raciais foi criado com a finalidade de estimular a produção de artigos na área de Psicologia, assim como criações artísticas nas mais diversas linguagens – fotografia, imagens, poesia, música e outras – a respeito da violência causada pelo racismo, também para dar visibilidade à produção sobre saúde mental e relações raciais. Acesse os catálogos dos trabalhos premiados na primeira (aqui) e na segunda (aqui) edição do prêmio.

Caderno Temático Vol. 1 Psicologia e Preconceito Racial
Este caderno temático apresenta a posição da Psicologia diante do preconceito racial. Aborda outros temas: A/o profissional perante situações de tortura, sua atuação na saúde pública, na Educação, a Psicologia e a cidadania ativa e outros debates que tragam, para o espaço coletivo de reflexão, crítica e proposição que o CRP SP se dispõe a representar na perspectiva de uma Psicologia antirracista. Clique aqui para ler a publicação.

Caderno Temático Vol. 14 Contra o Genocídio da População Negra: Subsídios Técnicos e Teóricos para Psicologia
O 14º caderno temático tem por tema “Contra o genocídio da população negra: subsídios técnicos e teóricos para Psicologia”. Outros assuntos ainda compõem o caderno de forma a trazer, para o espaço coletivo, informações, críticas e proposições sobre temas relevantes para a Psicologia e para a sociedade. Clique aqui para ler a publicação.

Caderno Temático Vol. 39 Segurança Pública e violência policial: quais corpos são alvos?
Este caderno temático apresenta as ricas discussões realizadas no Seminário Estadual Segurança Pública e violência policial: quais corpos são alvos?, ele é composto pelo registro das lives e pela transcrição das rodas de conversa que integraram o seminário. Clique aqui para ler a publicação.

Documentário “História da Psicologia e as Relações Étnico-raciais”
“Não há desconhecimento do racismo. Todo mundo sabe que o racismo existe, mas há uma resistência, há uma recusa em pensar o Brasil a partir da sua história". Clique aqui para assistir ao documentário.

#PraTodosVerem: card de fundo marrom e, no centro, a foto de Clélia Prestes, mulher preta, cabelos crespos na altura das orelhas, maquiada, usa um piercing de argola no nariz, um colar e veste paletó vermelho-escuro.


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